terça-feira, maio 20, 2008

Arqueologia vs. retroescavadora

Anda, nos meios arqueológicos nacionais, instalada mais uma grande polémica. Desta vez acerca do uso de retroescavadoras em escavações arqueológicas.

Há uns anos atrás, a minha pessoa, ainda muito verdinha nestas coisas da arqueologia, ouviu, de um conceituado arqueólogo da nossa praça, que deveria experimentar utilizar uma retroescavadora ou uma bobcat para retirar a primeira camada de terra nas escavações do castelo. Não lhe disse que não, quem era eu, mas pensei para os meus botões, que retroescavadora ou fosse que máquina fosse em escavações minhas, nunca na vida!

Na campanha de verão de 2006, o inferno desceu à sondagem de M.P., sob a forma de um portentoso entulho do século XVII constituído por enormes pedregulhos e argamassa. Os materiais eram escassos e terra nem vê-la. Só pedras, argamassa e algumas, poucas, telhas.

Durante cerca de um mês, todos os rapazinhos com um corpito mais avantajado eram sucessivamente deslocados para o chamado “campo de concentração”.

Imploraram-me por uma máquina. Que não conseguiam, que estavam esgotados, que tiravam entulho, entulho e o entulho nunca mais acabava.

Quase sucumbia à tentação cada vez que olhava para o estado deplorável daqueles moços depois de algumas horas de escavação. Mas insisti que não. Pelo menos até se encontrar um nível de pavimento, a escavação teria que ser feita à força de braços.
E o pavimento lá apareceu, dois metros e meio de entulho, depois.

No Inverno de 2006/2007, vi-me obrigada a conviver de perto com uma retroescavadora num acompanhamento de obra de grandes dimensões, também no Castelo.
E uma semana depois de iniciados os trabalhos, o condutor da retroescavadora já distinguia quando a pá da máquina batia numa pedra solta ou naquilo que poderia ser uma estrutura. Parava a máquina, quando via um caquinho minúsculo, quando via uma camada de terra de cor diferente e colocava milimetricamente a pá da máquina onde pedíamos.

E neste acompanhamento identificámos dezenas de muros, pavimentos em terra batida, ruas, 3 cisternas, uma necrópole a dez centímetros de profundidade e “otras cositas más”. E tudo correu muitíssimo bem.

É evidente que apesar de também termos prazos a cumprir estávamos muito longe dos ambientes normais de acompanhamento de obra e de empresas de arqueologia.

É evidente também que nem todas as máquinas são conduzidas por um Sr. J.M.!
É também importante dizer que para uma retroescavadora tínhamos vários arqueólogos e enquanto uns limpavam estruturas e faziam registos, os outros podiam estar a acompanhar os trabalhos da máquina.


Tempos de ouro esses, em que tínhamos uma equipa de 6 pessoas no campo, mais uns quantos voluntários que iam aparecendo e duas pessoas no gabinete!

Não quero, nem posso, por isso comparar a minha experiência com a de tantos arqueólogos que por esse país fora que sofrem à frente de uma retroescavadora.

Mas este acompanhamento permitiu-me perceber que a utilização de um bichinho destes numa escavação arqueológica pode ser muito útil desde que sempre acompanhada por vários pares de olhos e conduzida por uma pessoa experiente e minimamente interessada pela arqueologia.

E foi assim que na campanha de 2007, venci os meus medos, e se utilizou uma retroescavadora nas escavações.

E em 15 dias foram retirados metros e metros cúbicos de entulho. Se não fosse à máquina seria impossível continuar com as escavações naquele local e a dúvida persistiria para sempre acerca da funcionalidade daquele possível grande edifício.

Por isso acredito sim, que se pode e deve utilizar meios mecânicos numa escavação arqueológica. No entanto é preciso conhecer muito bem a estratigrafia do local, ter absoluta confiança no operador da máquina e nas pessoas (arqueólogos) que a controlam.

Uma retroescavadora não é nenhum bicho-de-sete-cabeças e muito menos é inimiga da arqueologia. Pelo menos em certos casos!

2 comentários:

Pedro A. Santos disse...

Deduzo deste post, que tem algo a ver com as escavações no castelo de Montemor-o-novo. Estive lá no verão do ano passado, e fiquei impressionado com as escavações.

Apesar de não ser da área, tenho bastante interesse por História e Arqueologia, e pensei na possibilidade de colaborar este ano como voluntário. Qual o contacto para tratar disso?

Obrigado

Pedro Santos

José Ramos disse...

LÍMPIDOS CRISTAIS

Ao labutar no duro mundo dos minerais
Encontrarás nele uma valiosa jazida
Dela tirarás belos e Límpidos Cristais
Será decerto a descoberta da tua vida

A minha filha
Filipa

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