domingo, fevereiro 24, 2008

Quando a culpa não é só do governo

“Porque razão ainda não viram a luz do dia as monografias das intervenções no regolfo da barragem de Alqueva?... Porque razão a “classe” dos arqueólogos não se consegue auto-regular, estabelecendo entre si padrões de qualidade mínimos para as intervenções de arqueologia de contrato?... Porque razão a “classe” dos arqueólogos não se consegue auto-regular, garantindo patamares dignos de remuneração aos seus técnicos?... Porque razão a “classe” dos arqueólogos não se consegue auto-regular, denunciando vigorosamente as intervenções desonestas e de inaceitável qualidade?... Porque razão não se consolida o princípio da publicação regular dos resultados das escavações (seja por que meio ou em que suporte)?”


“Com a devida vénia ao Zeca Afonso, diria que a indignação do arqueólogo é como o amor do estudante… Não dura mais que uma hora.”



Agora a culpa também é nossa. Que já não sabemos, como dantes, fazer manifestações, sair para a rua, protestar, indignarmo-nos!

Eu estive nas manifestações em Foz Côa e em S. Bento, contra a fusão do IPA com o IPPAR. E agora? Ninguém faz nada. Ninguém se mexe. Arrasam com um dos melhores institutos públicos, descentralizado, e que por isso mesmo funcionava, apesar de todos os cortes orçamentais, e nós ficamos quietos, calados.

Agora que se está a fazer aquilo que lutámos, em 2003, para que não se fizesse.

Hoje somos mais arqueólogos que em 1994 e em 2003, mas parece que todos temos medo. Estamos acobardados. Aceitamos aquilo que o governo nos dá sem protestar. Será que estamos melhor agora, que estávamos há uns 10 anos atrás?

Neste momento não tenho só vergonha do governo que temos. Agora também tenho, infelizmente, vergonha da nossa classe.

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